quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

UM MUNDO SEM DINHEIRO E O INSTINTO DE APROPRIAÇÃO - É possível Um Mundo Sem Dinheiro ? - A quem pertence o conhecimento - A apropriação atual no mercado de trabalho - Economia solidária e compartilhada - Dinheiro virtual - Propriedade intelectual e artística - Extremas diferenças de salários e ganhos de autônomos, liberais e empresários - "Percebe-se facilmente que o ruim não é o dinheiro, mas o uso que os homens fazem dele"

UM MUNDO SEM DINHEIRO E O INSTINTO DE APROPRIAÇÃO

Foto : Em "Um Mundo Sem Este Dinheiro", as invenções, as descobertas e as criações artísticas e literárias não seriam consideradas propriedades particulares, e sim conquistas de toda a humanidade.



 

É POSSÍVEL UM MUNDO SEM DINHEIRO ?.....

"Muitos ficam aturdidos por tanta ganância, lutas competitivas e
desejo exacerbado pela gastança dos bens materiais, ainda mais quando
estimulados pelas propagandas".

A decepção de muitos é tão grande que preferem descobrir a
possibilidade de viverem em "Um Mundo Sem Dinheiro", motivo da
formação de um grupo no Google, coordenado pela amiga Tatiana Regina, desejo que também compartilho e compreendo como sendo "Um Mundo Sem Este
Dinheiro", ou um mundo onde as pessoas optaram por deixar para trás as
bases instintivas que sustentam quase todo o sistema econômico do
mundo.



O INSTINTO DE APROPRIAÇÃO
Em um mundo sem "este" dinheiro, viveríamos sem o instinto
natural e animal de apropriação.
No caso dos seres humanos, a
apropriação dos recursos da natureza por indivíduos, grupos e nações,
e a apropriação do conhecimento, aparentemente justificam
ganhos com defasagens extremas entre os profissionais detentores de
instrução e os com pouca ou nenhuma instrução. É a apropriação do
conhecimento.




A PRIMEIRA MOEDA
Para entender um pouco mais, vamos voar ao passado e tentar imaginar
como teria sido inventada a primeira moeda e se ela foi uma boa descoberta
para os homens, ou não.

É provável ter sido lá pelas épocas antigas dos faraós, ou antes, no
tempo dos sumérios e acádios, não sei....Mas certamente foi assim : No
início, apenas permutavam suas coisas, serviços e produtos entre
famílias e nas feiras. O José criava galinhas e levava-as para a
feira. Precisando de um couro de boi, ao chegar lá, perguntava ao
curtidor "Você quer trocar um couro com duas das minhas galinhas ?".
Se coincidisse o curtidor estar precisando de galinhas, tudo bem. Mas
geralmente ele redarguia assim "Eu preciso é de um pote de água. Vai
por aí e troca as suas galinhas com um bom pote de água, e depois
volta aqui, que trocamos"....Lá ia o José procurar uma artesã de potes
de barro. Quando a encontrava, até que a coisa não se complicava muito
quando ela aceitava três galinhas por um grande e bonito pote de água.
E José voltava ao curtidor....Que canseira pra conseguir o que
precisava....

Então, alguém criativo daqueles tempos, imaginou criar uma coisa
pequena e valorosa que pudesse representar as muitas coisas que todos
tinham. Deve ter ido lá no patriarca, ou rei, exposto sua ideia, e daí
surgiu a primeira moeda.

O patriarca, vendo que era mais fácil para ele ajuntar moedas de ouro,
comprou de pronto a ideia e a colocou em prática. Todo mundo gostou,
pois facilitou muitíssimo todas as trocas !!






A APROPRIAÇÃO DOS RECURSOS DA NATUREZA
Muito bem !! Mas o problema é que o instinto de apropriação já existia
bem antes de aparecer a primeira moeda, ou dinheiro. Os seres humanos,
assim como os animais, tomam para si e sua família um território e seus recursos.
Sempre fizeram o mesmo. A diferença é que os animais, por restrição
das leis naturais, só se apropriam do território, seus alimentos e
encantos de prazeres. Os homens começaram a se apropriar de mais
coisas, como as terras com árvores de melhores madeiras, as baixadas
com barros especiais, as minas de ferro, ouro, prata e tudo o mais, para além

de suas necessidades. E todas aquelas coisas, apropriadas à força, foram paulatinamente sendo
acumuladas e transferidas de pai para filho, e assim sucessivamente
até os dias atuais.





A APROPRIAÇÃO DA FORÇA DO TRABALHO
Outras apropriações também se fizeram presentes nos desígnios dos mais
fortes : a apropriação dos outros seres humanos, como escravos e
servos. Também como trabalhadores. Tudo era apropriação, assim como
ainda o é até os dias atuais. Apropriação é "tornar algo propriedade
se si", "tornar próprio de si mesmo". Puro e compreensivo instinto
animal !! Este é um dos pilares que sustenta a sociedade moderna.

Parece que não, mas é. Infelizmente, é !!




A APROPRIAÇÃO DO CONHECIMENTO
A inteligência foi se desenvolvendo ao longo da história humana.
Conhecimentos e habilidades foram sendo adquiridas, acumuladas e
ensinadas de uma geração para outra. O conhecimento também foi alvo da
apropriação desde o início. Como os mais fortes eram poucos, criou-se
uma distinção entre eles e os restantes. Haviam também os
intermediários. Era o surgimento das classes sociais. E elas existem
até hoje, em certo sentido mais nítidas ainda !! As classes daquele
tempo, assim como as de hoje, viam na posse do conhecimento uma
estratégia para manterem-se no poder, ou melhor, criaram a falsa
ilusão de que aquele que tem mais conhecimento merece ganhar bem mais
que aquele que não tem.
Pode haver uma distinção, sim, a titulo de
estímulo para a aquisição do saber, porém não deveria ser tão distanciada daqueles
que são desprovidos de habilidades e conhecimentos.

Sempre foi assim : quem, na antiguidade, aprendia a profissão de
ferreiro, certamente ganhava bem mais que os simples trabalhadores
braçais. Não porque o ferreiro merecia mais por ter se instruído com
um mestre, mas porque ele pertencia a uma classe que se apropriava do
conhecimento para cobrar mais caro por seus serviços. E é assim até
hoje.



EXTREMAS DIFERENÇAS DE SALÁRIOS
Nos dias atuais, por exemplo, um técnico estuda (desde a meninice) 11
anos para adquirir o seu diploma de técnico em refrigeração. Após dois
anos de alguns pequenos cursos de especialização, começa a trabalhar
ganhando, digamos, 2 salários mínimos (em torno de R$920,00, em 2009). Um
porteiro de um edifício que exige o 8º ano do primeiro grau começa
ganhando um salário mínimo. Ou seja, porque um estudou 3 ou 4 anos a
mais que o outro, tem o aparente direito de receber o dobro,
mensalmente, pelo resto de sua vida, digamos por longos próximos 50
anos (considerando que esta diferença continuará a existir) e que
neste exemplo hipotético os dois não prosperam em suas possíveis
carreiras.

E há, ainda, comparações mais extremadas. Se o referido técnico
continuasse a estudar mais uns 6 anos, terá a socialmente aceita
remuneração mensal (inicial) de 4 salários mínimos.

Na matemática : 8 anos de estudo : 1 salário/mês(inicial) por 50 anos
                       12 anos de estudo : 2 salários/mês(inicial) por 50 anos
                       18 anos de estudo : 4 salários/mês(inicial) por 50 anos.

Há dois problemas aí : O primeiro é que a proporção não está correta.
O último estudou um pouco mais que o dobro em relação ao primeiro,
porém vai receber 4 vezes mais.

O segundo problema é que estes valores defasados não são por um tempo
limitado, mas por toda uma vida, o que torna a diferença um montante
final exorbitante.

A correlação é relativa. Portanto, para entender, não imagine
profissionais que se iniciam e progridem em suas carreiras. (pode até
ser, desde que se entenda os três profissionais progredindo igualmente
em cada uma de suas carreiras) A comparação faz sentido quando se
refere à profissão e não a um determinado profissional.

Entre os trabalhadores autônomos, os liberais, os micro-empresários e os empresários, a realidade é a mesma, pois valoram seus ganhos de acordo com a valorização excessiva de seus dotes, sejam de esperteza, inteligência, capacidade de liderança, conhecimentos, etc, excluídos os lucros necessários à manutenção dos meios de produção e dos capitais de giro, seja entre empreendimentos capitalistas ou cooperativos.




A APROPRIAÇÃO ATUAL NO MERCADO DE TRABALHO
Enfim, o que ocorre, na verdade, é que, até em nossa sociedade dita
evoluída, o instinto da apropriação domina as relações do "mercado" de
trabalho
. E essa apropriação está diretamente ligada ao argumento da
preservação da classe social. O técnico e sua esposa dizem assim, sem má fé,
: "É justo, e precisamos ganhar dois salários para pagarmos nossas contas e
comprarmos nossas coisas que custam o dobro das contas e coisas do
porteiro e sua família"....Esse argumento é uma ilusão, um sofisma !!
As pessoas não são conscientes deste falso patamar, mas esta é a
realidade. Nos dias de hoje, as diferenças exacerbadas e distanciadas
de ganhos parecem justas e são consideradas normais.



O SENTIDO DA APROPRIAÇÃO
O sentido de apropriação do conhecimento é este : "Quero e só aceito
ganhar tanto porque sou proprietário deste conhecimento" . "Se tenho a
posse dele, sou o proprietário"....Esta afirmação é mais um sofisma :
O conhecimento é sempre adquirido, ou seja, foi absorvido de fora para
dentro. O conhecimento profissional é, quase em sua totalidade,
recebido de um professor, de um mestre, de alguém que ensinou. Por
outro lado, este professor também aprendeu com outro e assim
sucessivamente retroagindo aos vários estágios de aquisição antiga do
conhecimento. Um novo conhecimento é sempre agregado aos existentes, e
o enriquece.



QUESTIONANDO A PROPRIEDADE INTELECTUAL E ARTÍSTICA
Mesmo os conhecimentos criativos, ou seja, aqueles que os sábios,
artistas e cientistas adquirem , não são genuinamente deles mesmos,
pois estes dons (inspiração, inteligência) eles não conquistaram :
foram-lhes concedidos generosamente pela natureza (ou por Deus).
Portanto, se um artista ou um pesquisador disser : " Isso que criei é
meu", não estará dizendo a verdade. O cientista, ou o artista, apenas produziu algo de novo a
partir de dotes naturais não adquiridos e da utilização de elementos
criados ou desenvolvidos por outros.




A QUEM PERTENCE O CONHECIMENTO ?
Enfim, o conhecimento, como um todo, é como um rio que nasce pequeno e
que cresce e flui à medida que regatos e riachos vão nele se
desaguando. No final, de quem é a água do rio ?.... Da primeira nascente ? Do primeiro regato que desaguou ? De um determinado riacho afluente ?.... De nenhum deles. A água, nem ao rio pertence. Talvez ao mar....Ou mesmo nem ao mar, à atmosfera....Na analogia, o conhecimento
humano é propriedade de todos os seres humanos !!



PORQUE, ENTÃO, AS EXTREMAS DIFERENÇAS ?
Como pode, então, uns ganharem absurdamente mais que outros só porque
deteem um certo grau de conhecimento ? Como vimos, este comportamento
é de origem instintiva e animal. É o instinto de apropriação.

Mas será que nós, humanos, devemos ser sempre assim ? Parece tão
normal !!... Porém é egoístico, é apropriativo e, sob um certo ponto
de vista, é até mesmo uma apropriação indébita.



PODEMOS OPTAR POR OUTRA FORMA
Temos o poder de entender estas influências naturais e, em seguida, o
poder de decidir tomar outro caminho. Podemos "reprogramar" nossas
bases individuais e sociais a fim de que não mais permitam a
apropriação.
É uma questão de opção. Podemos optar por um mundo onde
seres humanos realmente civilizados distribuam mais equitativamente o
resultado final de todas as suas conquistas e atividades produtivas.


RELAÇÃO ENTRE O INSTINTO DE APROPRIAÇÃO E A ECONOMIA
É isto !! Apropriação de recursos naturais e de conhecimentos. A
correlação com os extremos de riqueza e de pobreza e o desejo de "Um Mundo Sem Dinheiro" é evidente : a apropriação de bens e de serviços. Nesta base
primitiva é onde se alicerça quase toda a estrutura econômica atual.

As economias "solidária e compartilhada" principiam a adiantarem-se na adoção do dinheiro virtual, caminho inexorável a ser seguido pela economia da sociedade tecnológica. Percebe-se facilmente que o ruim não é o dinheiro, mas o uso que os homens fazem dele.




MUDAR
Vamos mudar isso ?....Para relações  que respeitem os iguais direitos
de todos os seres aos recursos da natureza e para relações que também
respeitem a origem "desindividualizada" de todo conhecimento ? Apenas
pessoas com esta consciência poderão vivenciar uma sociedade realmente
justa !!

Luiz A. V. Spinola - Publicado inicialmente no grupo Ecovilas
E também no grupo Ambiente Ecológico - Ecovilas
Lagoa real - BA, 27/10/2009
Publicado novamente, com melhorias, neste blog, Ambiente Social - blog, em 18/02/2015


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2 comentários:

  1. Luiz, mais uma vez "matou a pau" com seu artigo super esclarecedor. Aquilo que você fala do salário, referente ao nível de estudo, certa vez já até briguei com colegas de trabalho quando defendi a tese de que todos numa equipe de trabalho deveriam receber a mesma quantidade, e um bom salário. Na época, saí em defesa do viveirista, que não tinha curso superior, porém tinha uma carga horária bem maior que a nossa (administrativa) e, com certeza, um trabalho até mais minucioso, por lidar com as plantas.

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  2. Sim, Fred. Gratidão !!....Fico feliz que estas proposições tenham ressonância com sua forma de pensar, e enriquecida, ainda, com esta experiência vivenciada que você citou. Estamos, aqui em São Carlos, fazendo um chamamento para agregar amigos e amigas na elaboração de um Banco de Produtos e Serviços, que seria uma ferramenta para facilitar, pelo menos dentro de um grupo restrito, a vivência do princípio da paridade da mão de obra, ou serviços, ou quaisquer habilidades dedicadas à sociedade. Por exemplo, a hora de um pedreiro seria os mesmos 10,00 que a hora de um servente, e estes dois se beneficiariam da hora de um médico ou de um dentista ser a mesma deles, 10 reais. Logicamente, poucos vão aceitar esta equanimidade de valoração do tempo, mas as razões e bases filosóficas, e até espirituais, são muitas e são fortes. Aos poucos, as pessoas vão se convencendo da justiça e da beleza em distribuir igualmente dons, talentos, capacidades e habilidades.
    Nos dias de hoje, quando o desequilíbrio ambiental clama por uma redução drástica no crescimento econômico, o estímulo para se estudar mais deixa de ser a maior remuneração para transformar-se no prazer de dar a sua contribuição à felicidade de toda a sociedade....Abração !!

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